quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011
Um novo jeito de fazer negócios
Outra característica marcante desses grandes empreendedores de sucesso é a dedicação total aos seus negócios. No dia a dia das empresas, isso significa que muitas vezes eles colocam em segundo plano outros componentes importantes de suas vidas, como família, amigos, lazer e até a própria saúde. É comum isso acontecer pelo menos até que eles alcancem o topo de suas ambições, quando finalmente começam a dedicar mais tempo a si mesmos. Muitos têm dificuldade em manter uma vida equilibrada e acabam se distanciando de questões pessoais.
No entanto, vários dos empreendedores que contam suas histórias no Startup Brasil têm um perfil mais humanista, conseguindo lidar com um intenso volume de trabalho sem deixar de se dedicar também a família, lazer e saúde. Isso é mais presente em parte deles, porém todos parecem conseguir (ou ao menos buscar) certo equilíbrio em suas vidas. Talvez exatamente por esse motivo tenham conseguido levar suas empresas a um estágio tão bem sucedido.
Marcus Hadade, da Arizona, por exemplo, tem a busca por uma vida equilibrada como uma de suas prioridades. Embora trabalhe quase doze horas por dia, ao deixar o escritório ele faz questão de se entregar verdadeiramente à vida pessoal. “Se tenho meia hora com minha esposa, esqueço o telefone e o e-mail. Fico com ela de verdade. Três vezes por semana, reservo um horário para me exercitar. Nesses momentos, da mesma forma, fico absolutamente focado na minha prática. Enxergo claramente a importância de ter disciplina, dividir bem o tempo e estabelecer prioridades. E felizmente tenho conseguido praticar isso na minha vida”.
Para Vasco Carvalho Oliveira Neto, da AGV Logística, esse equilíbrio é mais desafiante. Sua jornada diária de trabalho costuma tomar quase todo seu tempo e, para compensar, ele procura preservar os finais de semana para o convívio com a família. Além disso, já faz alguns anos que não abre mão dos trinta dias de férias anuais, tempo em que fica com a família e se desliga totalmente da empresa, sem fazer contatos por telefone nem por e-mail.
O fato é que esses empreendedores já descobriram que sucesso sem equilíbrio é algo momentâneo, sem bases sólidas para se perpetuar. Se o ritmo da empresa for alucinado, com horas intermináveis de trabalho, a equipe não aguenta a pressão e vai embora. Com a troca constante de profissionais, a única cultura que se perpetua é a do estresse.
Identificamos na maioria dos presentes no Startup Brasil uma visão mais ampla das relações com familiares, amigos, clientes, fornecedores e colaboradores. São empreendedores que mantêm um canal aberto para certa sensibilidade e que buscam uma vida equilibrada com bom relacionamento com as pessoas que os cercam. São pessoas que claramente têm um sucesso pautado em bases sólidas e, portanto, “sustentável”.
Empreendedores de alma ou excelentes planejadores
Outra característica notória entre esses grandes empreendedores, com exceção de Vasco Oliveira, da AGV Logística, é a ausência de planejamento no início dos negócios. Muitos começaram sem planos de negócio detalhados, análises de mercado ou planilhas de fluxo de caixa. Foram empreendedores que começaram com a alma e a mais pura intuição, inserindo só mais tarde o planejamento em suas rotinas.
Elói D’Ávila de Oliveira, da Flytour, é um exemplo disso. No início, a experiência de vida foi seu maior ativo. Para dar o pontapé inicial, contou com seus desejos e intuições, além de uma rede razoável de contatos. Assim como em outras histórias contadas aqui, a partir de determinado estágio de amadurecimento do negócio, Elói passou a incorporar o planejamento como importante ferramenta para o crescimento de suas operações. Esta decisão surgiu depois, e não antes, que ele fizesse as bases de sua bem sucedida operadora de turismo.
Esse perfil confirma uma das bases de um recente estudo publicado por Saras D. Sarasvathy, uma proeminente pesquisadora do comportamento empreendedor e professora da Darden Graduate School of Business, da Universidade de Virginia. Seu livro “Effectuation, Elements of Entrepreneurial Expertise” apresenta uma tese controversa, segundo a qual a maioria dos empreendedores norte-americanos parte para a execução sem um planejamento prévio. Isso ocorre pelo simples fato de suas ideias embrionárias terem variáveis demais para serem pensadas dentro de um plano de negócio. Por isso, eles preferem construir seu futuro a pensar nas chances de cada uma das variáveis dar certo ou errado.
Esse grupo de empreendedores é classificado por ela com sendo do tipo “effectuation”. Seus negócios não são fruto da causa, mas sim dos efeitos de suas ações. Pessoas com esse perfil são responsáveis pela criação da maior parte dos negócios no mundo. Do outro lado, estão os empreendedores classificados como “causation”, aqueles que buscam primeiro entender a causa por trás de seus negócios por meio de planejamentos mais profundos na tentativa de controlar todas as variáveis necessárias para a empresa dar certo. Embora minoria, sua atuação pode influenciar os empreendedores tipo “effectuation” a darem o salto seguinte em seus negócios já iniciados, rumo a um bom planejamento e plano de negócios.
Diante disso, arriscamos afirmar que sair da inércia e fazer acontecer é muito mais importante no início de um negócio do que fazer business plan e pesquisas que demandam muito tempo e dinheiro. Isso não significa uma postura contrária ao planejamento, de forma nenhuma. Embora muitas empresas do Startup Brasil tenham tido grandes conquistas sem o auxílio de qualquer plano de negócios, elas passaram a adotar sofisticadas ferramentas de planejamento à medida que os negócios cresceram e se solidificaram. Depois que a empresa subiu os primeiros degraus, em todos os casos ficou clara a importância do investimento em planejamento, para conseguir um crescimento sustentável e consistente.
Pedro Mello lidera o Grupo Quack
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